quarta-feira, 23 de março de 2011

Sou lunático, dramático, enfático,
meço bem as palavras que vou escrever,
sei acariciar o corpo sem tocar a pele,
até mesmo canto sem mexer os lábios,
mas não peça para que eu dê passos curtos e calculados.

Sou inconsequente, despojado, impreciso,
r
penso e esqueço antes do pensamento findar,
nem lembro bem a primeira frase do poema,
absorvo cada mudança de vento, de clima, de opinião,
e caminho contrário à moda vigente.

Só não mudo o amor que sinto por tudo,
pelo ar, pelo movimento das pessoas ao redor,
por você em nossos encontros e desencontros,
e por cada segundo da minha vida,
ainda que ela nunca repita sua estrada.

Sou tudo e não sou nada,
sou um nada tentando ser algo,
na verdade,
sou algo diferente disso tudo.

Quedas

Caem aviões,
caem cabelos,
caem as lágrimas, afogam lembranças,
caem pessoas desorientadas
debruçadas sobre o balcão.

Não estamos bem assim?
Não estivemos bem assim?

Caem os tolos,
caem os covardes,
caem os fracos, quebram os dentes,
caem pessoas repletas de nada
implorando pra ganhar um caixão.

Cai a vida,
cai a morte,
cai por terra a minha esperança,
cai o barulho,
cai o sentido,
fica o silêncio e domina a noite.


Escrito por Pietro e Roberto nos dias 27 e 28/11/1999
Toque meu rosto o tempo que quiser,
grave minha voz, fotografe meu corpo,
diga que sou seu melhor amigo, alimente meu ego,
beije minha boca como se fosse a última vez,
porquer talvez seja,
talvez já tenha tido paciência demais,
talvez a humilhação e a frustração sejam tantas
que, mesmo caindo em contradição,
eu já não te queira
como te quis hoje de manhã.

Escrito em 09/04/2000
Eu transei
engravidei
e não assumi
a paternidade da poesia.
Há cinco minutos tento lembrar
o que pensei em escrever
daqui a dez segundos.

Anti

Que vergonha Manoel,
vim de longe, um longo dia de viagem,
empolgado em ler seus versos,
pra conhecer sua terra inspiradora
e vejo seus impressos
amontoados num canto de um sebo.

A cultura daqui é rala,
escondida entre a bomba de Tereré
e a candura do Tuiuiú;
Entre Violeiros e pseudo roqueiros
e você a esnoba, não divulga,
afoga seus poetas dentro do Pantanal.

Aparece Manoel!!!
Sou neófito, imaturo,
minha poesia nem nasceu,
engatinho invisível e estigmatizado
em meio à multidão de artistas
elitizados e bem sucedidos,
porém, ainda assim, meu grito se percebe.

Então, vá pra rua Manoel,
sai da reclusão, torne-se popular,
radicaliza e raspa cabelo e bigode,
mostra a lingua,
corte as árvores, chute os tuiuiús,
levanta dessa rede Manoel!!!

Iniciado em 16/01/2006
finalizado em 30/01/2008
Qual a diferença entre o que fui
e o que sou?
O que fui, e se fui,
quero voltar a ser?

Para onde fui que eu não vi?
Para onde olhei quando fui?
Onde fui eu?

(escrito em 07/04/2000)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Disseram que a vida me espera na esquina
e que me dará uma boa surra.
Ando sem medo:
Já tive meu reino devastado
e meu corpo desconjuntado.

Vi quando as trevas interiores
se dissiparam na minha frente.
Caminhei por becos estreitos
e encontrei a cidade perdida.

Minha testa está marcada,
sinto-me livre das aflições.
Quando eu passar pela esquina
a vida se curvará e pedirá uns trocados.
Vamos fugir daqui
deste mundo de monstros, loucos, lunáticos,
deste mundo controlado por velhos, decrépitos, ditadores,
que nos mostram a impureza e censuram o correto,
que nos jogam em calabouços escuros e fedidos,
que nos lobotomizam com suas culturas alienantes,
que infestam de culpas nossas próprias consciências,
que nos trancam por dentro em nossos corpos já inertes,
que transformam em piadas nossa forma de expressão,
que escondem os seus medos e espantam nossa coragem.

Vamos fugir daqui
desta Sodoma contemporânea,
vamos fugir
da vã tentativa de ter nossas mentes apagadas.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Resenha Autoramas "14 Laps"

Segue a resenha do disco "14 Laps" do Autoramas que fiz para o site do Clube do Vinil:

Resenha: “14 Laps”, do Autoramas (por Pietro Luigi)

Quando a largada foi dada em 1997, o cenário do Rock Brasileiro já não contava com Chico Science, Second Come, Low dream, Killing Chainsaw e mesmo o Pin Ups, uma das bandas mais importantes do cenário, perdera há pouco o baixista e vocalista Luis Gustavo, agora mais dedicado às suas Hqs. Era um momento histórico, pelo número de bandas independentes que surgiam e ao mesmo tempo preocupante pois nada indicava que estas sobreviveriam muito tempo nesta obscura carreira “alternativa” (rótulo que já os atirava ao escanteio). Ultrapassando todos sem precisar correr na contramão, surgiu o Autoramas, um mega trio que contava na sua formação inicial com Gabriel Thomas (Guitarra e Vocais, ex-Little Quail And The Mad Birds), Nervoso (Bateria, ex-inúmeras bandas, entre elas Beach Lizzards e Acabou La Tequila) e Simone do Vale (Baixista e Vocalista, ex-Dash, entre outras).

O grupo surgiu tão maduro, tão afiado, que em pouco tempo já conquistava um público fiel e sedento por shows, que se tornavam cada vez mais constantes e mais profissionais. Em 1998, sai Nervoso, entra Bacalhau (baterista, ex- Acabou La Tequila e ex-Planet Hemp), as turbinas esquentam ainda mais e agora ninguém os alcança: Já são considerados uma das bandas mais importantes do Rock Brasileiro, sendo reconhecidos até no cenário Internacional, onde fazem sucessivas turnês.

Esta Coletânea, 14 Laps, lançada agora, treze anos depois, já com Flavia Couri (Baixista e Vocalista, cuja banda Doidivinas é uma das mais empolgantes que surgiu em décadas de Rock ) substituindo Selma Vieira (que também substituíra Simone), mostra o porquê de tanto sucesso. Poucas vezes a combinação guitarra, baixo e bateria se fez tão coesa, única, como uma orquestra de melodias, ruídos e efeitos insanos. Do início com Catchy Chorus até o divertidíssimo Samba Rock do Bacalhau (com direito a uma citação genial de Meu nome é Gal e de Todos estão surdos), todos as faixas mostram uma banda coesa, que nunca perdeu o pique inicial, deixando na poeira muitas bandas estrangeiras tidas como inovadoras. Tudo é hipnótico, alucinado, irônico e mordaz.

O resgate da música 1,2,3,4 é uma das grandes novidades do álbum que conta também com pérolas como Megalomania, Hotel Cervantes e a grande responsável pelo boom inicial, Fale mal de mim. É a história do rock contada em 14 músicas escolhidas a dedo em um repertório onde não existem sobras.

Uma observação mais detalhada nas músicas que ficaram de fora da coletânea indicam um problema: O autoramas não é uma banda para apenas uma coletânea e mesmo um Box com todas as suas músicas deixaria os fãs e admiradores com um vazio, com uma vontade de pedir sempre mais numa espécie de ninfomania musical. Quem já assistiu um show deles compreende bem essa sensação.

Definitivamente, os Autoramas não nasceram pra chegar em segundo no podium.

Para conhecer o Clube do Vinil e, consequentemente o Sebo Baratos da Ribeiro (o mais bacana do Rio!!!), basta clicar no Link:

http://baratosdaribeiro.com.br/clubedovinil/2010/12/17/resenha-14-laps-do-autoramas-por-pietro-luigi/